ATIVIDADE

Balanço Historiográfico da Genealogia Brasileira

Palestra realizada em 18 de março de 2008

A primeira Palestra do ciclo ASBRAP “História e Genealogia: Pesquisa e Historiografia” começou de forma extraordinária. A palestra ministrada pelo nosso presidente Marcelo discorreu sobre o estado da pesquisa genealógica no Brasil, enriquecida com dados da sua experiência e contato com a genealogia portuguesa, fruto de sua viagem no ano passado.

De início, o palestrante iniciou com uma constatação provocante: a pesquisa genealógica no Brasil está pelo menos 30 anos atrasada em relação à portuguesa, ou seja, faz-se no Brasil genealogia nos moldes que era feito na década de 1960.

Em seguida, aponta vários dos fatores que contribuíram para tal estado alarmante. Primeiramente, as condições de pesquisa têm involuído, pois os acervos documentais estão mal conservados, mal indexados, arquivistas e bibliotecários mal preparados, além da dificuldade do acesso a documentos, fruto de uma mentalidade que vê o pesquisador como alguém incômodo, esta resultante da incompreensão de como funciona uma pesquisa histórica. Aliado a isso, ao contrário de Portugal, no Brasil faltam políticas de disponibilização on-line ou de forma impressa de séries documentais, aproveitando os modernos recursos tecnológicos.

Em terceiro lugar, a própria abordagem da genealogia, pautada em arrolar nomes sem se preocupar em contextualizar a vida da pessoa, as relações familiares ou a época em que viveu, aliada à forte preocupação em ressaltar aspectos nobilitários dos ascendentes (o que leva a ocultar descobertas indesejáveis), contribuem para tal atraso.

Em quarto lugar, o preconceito da pesquisa histórica universitária com relação à genealogia contribui sobremaneira para travar os diálogos enriquecedores entre as duas áreas. Por conta desse último assunto, a palestra adentrou no histórico da pesquisa genealógica no Brasil. Marcelo mostrou que ela esteve inicialmente atrelada aos institutos históricos e geográficos, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sediado no Rio de Janeiro, fundado em 1838. O mesmo ocorreu quando se instalou Institutos Históricos e Geográficos nos estados, que passou a agrupar a pesquisa regional. Ao mesmo tempo que deu impulso à pesquisa, essa regionalização contribuiu para isolar a pesquisa genealógica, pois os intercâmbios foram um tanto restritos. Um segundo momento da pesquisa genealógica ocorreu com a fundação dos institutos genealógicos, formado por pessoas também pertencentes aos institutos históricos mas que gostariam de concentrar pesquisas genealógicas. Destes, destacam-se o Colégio Brasileiro de Genealogia e o Instituto Genealógico Brasileiro.

Tanto os Institutos Genealógicos quanto os Institutos Históricos sofreram com a criação das universidades públicas, na medida que estas passaram a receber dinheiro público para realizar pesquisas e publicações históricas. A este fator soma-se a polarização ideológica que associava as universidades ao pensamento de esquerda e os institutos ao pensamento da direita, muitas vezes emperrando o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre ambas as instituições.

O debate foi acalorado e intenso, permeado pela pergunta: o que fazer para reverter tal situação? Múltiplas alternativas foram colocadas, ressaltando-se a responsabilidade individual e coletiva dos pesquisadores, responsáveis por cobrar das autoridades públicas e mantenedores dos acervos uma postura positiva com relação à questão. Lembrou-se que esse é um dos objetivos para o qual foi criada a ASBRAP. Amargamente, mas em tempo, constatou-se não estar sendo dada a devida atenção ao assunto, apesar de se sentir, individualmente, como pesquisadores, os seus efeitos. Ao clima geral de mobilização seguiu-se uma acalorada salva de palmas.

Em seguida realizou-se o jantar no restaurante do Hotel Othon, num clima descontraído entre os participantes.



fonte: site ASBRAP
publicado em 18-03-2008
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